Quando o assunto é trauma muitas dúvidas e polêmicas são geradas a respeito do tema. No campo da medicina, o trauma e traumatismo são termos de origem grega que significam lesão ou ferida produzida por uma ação externa, podendo trazer sequelas ao organismo. Já para a psicologia, mais especificamente a psicanálise, o trauma pode ser um acontecimento real ou fantasioso na vida do sujeito que se define pela sua intensidade e pela incapacidade do indivíduo de reagir a ele de forma adequada.
Segundo a psicanálise, os traumas de infância são marcas psíquicas de experiências de angústia e desamparo sentidos pela criança, de forma real ou fantasiosa. O bebê, ainda com a linguagem primária e o psiquismo imaturo, não dispõe de recursos suficientes para elaborar a intensidade do impacto psíquico de prazer e desprazer. Ao nascer, as experiências da criança são orientadas pelas relações que estabelece com o outro desde muito cedo, além também de serem determinadas pelo cuidado ou desamparo no qual o recém-nascido está submetido
A criança tem à sua disposição pouquíssimos conhecimentos e referências, apenas o seu campo emocional e outros sentidos como o tato, a audição e as sensações que regulam suas experiências. Todo o restante é um enorme desconhecido para ela e seu processo de descobrimento é gradativo e constante, dependendo muito daqueles que dela cuidam. É muito natural e importante que a criança sinta medo, esse sentimento evita que ela corra riscos desnecessários e preserve sua vida de forma instintiva, porém dependendo da intensidade da carga emocional vinculada à essas experiências, elas podem resultar em traumas.
O impacto dos traumas infantis no desenvolvimento dependerá dos mecanismos psíquicos da criança e daqueles que cuidam dela. Não existe uma “regra” de consequências possíveis desencadeadas pelos traumas, afinal, cada indivíduo vive e registra suas experiências de forma bem diferente. Segundo a Psicoterapeuta Clínica, Diana Huh Migliorini, o trauma é atemporal. “O inconsciente do sujeito pode carregar marcas traumáticas vivenciadas em qualquer fase do desenvolvimento. Portanto, o trauma pode trazer consequências na vida adulta, como o desenvolvimento de transtornos depressivos, baixa autoestima, transtornos de ansiedade, transtornos de humor, fobia social e diversos outros sintomas emocionais, gerando prejuízos na interação e na relação com o outro. ”
A longo prazo, as experiências traumáticas podem, de certa forma, se integrarem ao psiquismo da criança. Independente do acontecimento traumático, essas feridas podem permanecer até a vida adulta, dependendo exclusivamente da intensidade ou de quanto a pessoa conseguiu compreender tal situação. “Como o trauma é resultado de um registro no inconsciente, a liberação dessa energia pode ocorrer a qualquer momento ou fase da vida, independentemente do tempo em que ele aconteceu. Por isso, as patologias e seus sintomas podem se manifestar na vida adulta na tentativa da própria mente ordenar tal situação traumática. ”
Segunda Diana, a interação positiva entre os pais e o bebê é essencial para proporcionar um ambiente seguro, que favoreça a construção elementos psíquicos para que a criança possa elaborar seus traumas potencializando sua saúde emocional, mental e física. “A constituição psicológica do bebê é uma resposta do ambiente em que ele é inserido e a forma em que seus pais lidam com seus momentos de frustração. Todo estímulo que os pais possam propiciar uma sensação de proteção à criança vai inscrevê-la em um ambiente que favoreça sua autoestima, fazendo com que a mesma possa brincar sem que se assuste. Quanto mais ela for inserida em um ambiente acolhedor e estimulada as brincadeiras, mais os traumas podem ser evitados e/ ou elaborados na própria arte do brincar. ”
Toda criança vivencia medos e inseguranças em algum momento da sua vida, afinal sua constituição é determinada não apenas pelo seu mundo real, mas também pelo mundo de fantasias que ela cria. Vale lembrar que mesmo em um ambiente saudável, a criança pode desenvolver alguns traumas e medos inconscientes, porém a forma que pais lidam com seus medos é que irão ajudá-la a lidar com isso no futuro.
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